XXVII – Domingo Comum
“Aumenta a nossa fé”
Os apóstolos fazem este pedido depois de terem ouvido Jesus falar da gravidade dos escândalos e da necessidade de perdoar sempre. No que se refere aos escândalos, adverte como é grande a responsabilidade daquele que os causa, ao ponto de afirmar: “melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar do que escandalizar um só destes pequeninos”. É ocasião de escândalo aquele que, com o que diz e faz, com o que ensina e o modo como vive, contradiz a verdade da fé, ao ponto de levar alguém a duvidar da verdade, da bondade e do amor de Deus.
Em seguida, Jesus fala do perdão que devemos conceder sempre e a todos os irmãos que nos ofendem: “se te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: ” arrependo-me”, perdoa-lhe”. Esta exigência de Jesus é difícil de cumprir, mas é a que mais e melhor distingue os verdadeiros cristãos. Por isso mesmo, o maior escândalo que um discípulo de Jesus pode dar é o de recusar-se a perdoar ao seu irmão.
Perante esta realidade, e desejando ser fiéis aos ensinamentos do Mestre, os apóstolos suplicam ao Senhor que aumente a sua fé. Eles apercebem-se de que só com uma fé mais forte, fé que só Deus lhes pode conceder, conseguirão evitar os escândalos, sobretudo o escândalo de não perdoar.
“Se tivésseis fé …” Jesus usa a imagem do grão de mostarda, uma semente pequena que dá lugar a uma planta grande, para exprimir a potencialidade e o dinamismo da fé. A fé é portadora de uma força capaz de transformar o homem e de o levar a fazer as coisas mais difíceis e extraordinárias.
No entanto, a fé não nos confere um poder mágico e arbitrário, como seria o de obrigar a amoreira a sair do seu lugar para se plantar no mar. Esse poder seria demasiado perigoso. Quantos não o usariam para afastar a casa dos vizinhos que não lhes agradam ou coisas semelhantes! Os milagres da fé são de outra natureza, mais necessários e mais importantes.
A fé dá-nos a capacidade de ver a verdade profunda do que somos, das coisas e dos acontecimentos, do mundo e da história dos homens. Ela permite-nos ver tudo e todos com os olhos e o coração de Deus. Graças à fé em Deus Pai, conseguimos ver naquele que nos ofende o irmão a quem devemos amar e perdoar. Este é um milagre da fé! Sim, amar os inimigos e perdoar a quem nos ofende é um milagre que só a fé faz acontecer na vida dos homens.
Graças à fé, mesmo nas situações limite e nos momentos mais dramáticos, não desesperamos nem desistimos de viver. Pelo contrário, continuamos a acreditar na vida e a percorrer o caminho do futuro. O próprio facto de permanecermos fiéis a Deus e à missão que nos confiou, mesmo quando somos perseguidos e sofremos por causa da fé que professamos, é também um milagre da fé. É ainda graças à fé que os discípulos de Jesus, depois de terem feito tudo o que lhes foi ordenado, conservam a lucidez para reconhecerem que apenas fizeram o que deviam fazer, isto é, apenas se limitaram a cumprir a sua missão.
“Somos servos inúteis”. Parece-nos excessivo que os discípulos de Jesus, apesar de serem fiéis à sua missão, se devam considerar a si mesmos como servos inúteis. Como colaboradores de que Deus quer precisar para concretizar o seu projecto de salvação, os discípulos de Jesus não são servos inúteis, no sentido de não necessários e sem valor. Então, o que é que Jesus pretende ensinar? Os discípulos, mesmos quando cumprem fielmente a sua missão, devem reconhecer que o que fizeram só foi possível com a ajuda de Deus. A fidelidade à missão é dom de Deus, não mérito deles. Por conseguinte, não têm direito a reclamar uma recompensa suplementar, muito menos uma recompensa traduzidas em vantagens humanas neste mundo. Eles merecem a recompensa que Deus reserva para aqueles que lhe são fiéis: a recompensa eterna.
“Se tivésseis fé…” Mas como é a nossa fé? Não será que muitas vezes escandalizamos os outros com as contradições da nossa vida, ou seja, com a debilidade da nossa fé? Por exemplo: Quando questionamos a bondade e o amor de Deus perante as dificuldades e as provações da vida; Quando, confrontados com o insucesso do nosso trabalho, concluímos que não vale a pena continuar a nossa missão, ou quando, no desânimo e desinteresse dos outros, encontramos justificação para também nós desistirmos de trabalhar e de lutar; Quando nos agarramos às seguranças humanas da Igreja e resistimos ao impulso renovador do Espírito Santo, ou quando somos infiéis ao Evangelho para garantirmos o nosso sucesso pessoal.
Para evitarmos estes escândalos, Senhor, “aumenta a nossa fé”.
Pe. José Manuel Martins de Almeida