“Quem pode então salvar-se?
Ao ouvirem da boca de Jesus o que é necessário fazer para alcançar a vida eterna, os apóstolos concluem que a salvação não está ao alcance dos homens. Na verdade, a salvação não é algo que o homem possa conseguir só por si, apenas com o seu esforço. A salvação é, acima de tudo, um dom de Deus, só Ele pode conceder ao homem a vida eterna. Deus pode e quer. Por isso mesmo, Ele torna possível o que é impossível ao homem.
Deus torna possível, mas o homem tem de fazer a sua parte. A salvação tem de ser desejada e procurada pelo homem. O homem tem de aceitar e corresponder ao dom de Deus.
Num primeiro momento, e na resposta ao homem que O interpela, Jesus indica os mandamentos, enumerando aqueles que se referem ao próximo, como o caminho que conduz à vida eterna. Depois, lançando-lhe o desafio da perfeição, Jesus pede ao homem que abdique de todos os seus bens: “vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me”. O desprendimento não vale por si mesmo. Ele vale enquanto se traduz na partilha com os pobres. Além disso, a renúncia aos bens tem sentido na medida em que o homem fica mais livre para seguir Jesus.
Aquele homem sente-se perturbado com aquela exigência e considera que Jesus foi longe de mais. Ele, que antes tinha dito que cumpria os mandamentos desde a sua juventude, agora afasta-se de Jesus entristecido, porque tinha muitos bens e estava muito preso a eles. Afinal, o homem não cumpria tão bem os mandamentos como pensava. Antes de mais, não cumpria o mandamento do amor a Deus, porque era aos bens e não a Deus que ele dava o primeiro lugar do seu coração. Depois, também não amava o seu próximo como devia, pois não estava disposto a partilhar com ele o que possuía.
Contrariamente ao que pode aparecer à primeira vista, o “ser perfeito” não é algo mais para além do cumprimento dos mandamentos, mas sim a exigência de vivê-los de um modo radical. Não basta cumprir o “não” dos mandamentos: “não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não cometas fraude”. Amar não pode limitar-se ao não fazer mal às pessoas. Pelo contrário, implica fazer algo de positivo por elas. Amar envolve e compromete necessariamente o coração do homem, passa por renunciar a si mesmo e comunicar aos outros algo da sua vida e do que é.
“Quem pode então salvar-se?” Tu estás efectivamente preocupado com isso? Queres realmente salvar-te? Para tal, estás disposto a dar a Deus a oportunidade de te salvar? Mas antes: acreditas realmente na vida eterna? Consegues sonhar para além dos limites do tempo e dos horizontes do mundo? Vibras com a ideia de viver eternamente com Deus, usufruindo da plenitude da sua vida? Aspiras a esse mundo de felicidade e fazes dele a meta última da tua caminhada existencial?
“Quem pode então salvar-se?” Deus quer salvar-te. É o que Ele mais deseja para ti. E tu queres que Ele te salve? Mas, então, quem é que ocupa o centro do tua vida? Qual é o tesouro no qual colocas o teu coração? Qual é riqueza que tu persegues e o bem supremo pelo qual suspiras? És prisioneiro do teu egoísmo ou vives na liberdade do amor? Deixas que Deus te ame e, assim, te torne capaz de cumprires os seus mandamentos? Se não dás a Deus a liberdade de te amar, tiras-lhe a possibilidade de te salvar, pois só o amor de Deus salva o homem!
Para Deus tudo é possível e Deus quer fazer possível o que é impossível ao homem. Mas Deus, para o salvar, precisa do seu consentimento e da sua colaboração. E quando o homem se opõe a Deus, Deus fica impotente para fazer aquilo que mais pode e quer. Sim, o homem pode impedir Deus de o salvar!
Parece um paradoxo: Aquele que tudo pode, fica sem poder salvar o homem, porque o poder do egoísmo do homem pode anular o poder do amor de Deus! Deus quer salvar o homem, mas o homem, exclusivamente por sua culpa, pode condenar-se!
“Que hei-de fazer?” Tu já sabes o que deves fazer, qual a atitude que deves assumir perante Deus, qual o caminho que deves percorrer. O que Jesus propôs ao homem do evangelho continua a ser válido para ti!
Pe. José Manuel Martins de Almeida