Igreja em missão
Jesus nasceu, segundo a genuína tradição, num presépio, nos arredores de Belém, portanto fora da cidade, por não haver para Ele lugar nas hospedarias.
A festa de Natal existe para celebrar este acontecimento, com toda a sua importância para a salvação das pessoas e do mundo.
Jesus é, de facto, o salvador, jubilosamente anunciado pelos anjos cantando “glória a Deus nas alturas”, alegremente visitado pelos pastores que pernoitavam nas redondezas e depois adorado pelo reis magos, vindos de longe com seus presentes e guiados pela estrela.
Foi assim que o Filho Único de Deus iniciou o cumprimento da missão que o Pai lhe confiou.
Assumiu a nossa condição humana até às últimas consequências, incluindo a rejeição, o sofrimento e a morte.
E, durante toda a sua vida na terra, saiu, de mil maneiras, ao encontro das pessoas para as compreender nas sua situações de vida e as ajudar a superar as dificuldade que são de todas, sem excepção, embora diferentes de umas para as outras.
Assim, qual bom pastor, partiu ao encontro da ovelha perdida, sabendo que a alegria do reencontro com Deus e com as razões de viver que ele inspira nada as pode substituir.
Como bom samaritano, não fez como o sacerdote, o levita e tantos outros que, invocando as mais variadas razões e muitas delas válidas, passaram ao lado e ao largo. Não. Ele parou, olhou, encheu-se de compaixão e agiu de imediato em favor daquele que jazia prostrado na berma da estrada e já meio morto.
Hoje é a nossa vez.
Enquanto discípulos deste grande Mestre, cumpre-nos continuar a sua missão, no momento actual, fazendo bem sem olhar a quem.
De facto, a lição do presépio conjugada com os imperativos da hora actual desafia-nos a ser Igreja em saída para as periferias existenciais do nosso tempo, a fim de aí continuarmos a obra salvadora, verdadeiramente humanizadora, do mesmo Jesus.
E nestas periferias aonde a missão nos conduz e que estão mais perto de nós do que muitas vezes imaginamos, aparecem-nos situações muito variadas.
Umas vezes é a pobreza mais ou menos extrema, onde faltam os bens materiais elementares a pedir-nos respostas adequadas. Apesar dos objectivos do milénio, que pretendiam reduzir para metade a pobreza no mundo até 2015, infelizmente entre nós ainda há muito que fazer, neste combate.
Outras vezes são o abandono e o isolamento em que, infelizmente se encontram muitas pessoas nos nossos meios, porque filhos e outros familiares mais ou menos próximos tiveram de partir à procura de meios de vida que aqui não encontram. Esta é uma realidade crescente entre nós e tem levado as forças do ordem pública a reforçar o cuidado com a defesa de pessoas e bens.
Sabemos, porém, que nada pode substituir a relação de proximidade, sobretudo a familiar.
Há ainda periferias feitas de pessoas que estão à margem, sem que lhes falte pão para a boca ou outros meios materiais. Falta-lhes, sim, a necessária inserção na vida social e comunitária, ou porque não têm trabalho, ou porque vêm de outros ambientes e culturas ou por qualquer outra razão. A lição do presépio convida-nos a percorrer sempre caminhos que conduzam à plena inclusão social de todas as pessoas, mesmo daquelas que, por circunstâncias várias, deixaram a sua pátria e a sua cultura de origem e batem agora à nossa porta. Também temos casos destes muito perto de nós, uns passantes e outros que se fixam em maior ou menor permanência.
Não podemos também esquecer que temos hoje significativo número de pessoas, sobretudo adolescentes e jovens, que têm tudo e às vezes até demais, mas falta-lhes o essencial que é a relação interpessoal e comunitária, sobretudo em família, capaz de os desafiar à ousadia de tomarem a vida em suas próprias mãos e fazerem as escolhas certas.
O recente Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a Fé e o discernimento vocacional desafia não apenas os jovens mas a própria sociedade, nas pessoas dos seus responsáveis, a ousarem tomar decisões para a vida.
A lição do presépio convida-nos para a grande missão de ajudar a que todos encontrem o sentido de vida que o Menino de Belém veio anunciar.
Guarda, 13/12/2018
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda