O progenitor nasceu em Alcongosta. Um dia encantou-se pela linda e prendada jovem Encarnação de Alpedrinha. Foi tão forte essa paixão, que abdicou da promoção a sargento. Após um regresso de Angola, casou com essa ninfa, musa de Alpedrinha, e vestiu a farda de carpinteiro, tocando instrumentos mais pacíficos e construtivos.  

Deste enlace matrimonial, nasceu em 1934 António Braz Ribeiro, que frequentou a Escola Primária na sua terra natal e fez exame da 4ª classe na sede do concelho – Fundão-, como determinavam as normas escolares.

Até aos dezanove anos, colaborou com assiduidade nos serviços religiosos da Paróquia de Alpedrinha, prestando auxílio ao Cónego Manuel Rebelo, missionário regressado de Angola por motivos de saúde, que só conseguiu sobreviver rezando muitos trintários.

Com as visitas regulares do Padre Cruz a Alpedrinha, teve o privilégio de muitas vezes ser seu sacristão. Naqueles tempos toda a Liturgia era em Latim.

Entre 1954 e 1956, prestou voluntariamente o serviço militar, antes de ingressar na Função Pública, nos Serviços Administrativos da Escola Agrícola da Paiã, a fim de poder casar com uma Professora Primária, sua conterrânea. Eram assim as leis da época.

Entre 1958 e 1962, frequentou um Curso de Contabilidade, obtendo o grau de Bacharel na Gestão de Empresas, tendo em 1978 concluído a licenciatura em Gestão e Economia.

Entre 1963 e 1969, desempenhou as funções de Administrador na Empresa Luso-Alemã “Normstar”.

Em 1970, fundou a sua própria Empresa – PilarPortas, Lda – na Ramada (Odivelas), tendo registado a patente de um dispositivo de segurança de portas, premiado com a medalha de Bronze na Exposição de 1971 em Nuremberga (Alemanha).

Com este percurso na gestão de empresas, chegou reformado a Alpedrinha, na companhia da Esposa, também reformada de uma longa caminhada no ensino primário em diversas escolas do país, com turmas de quarenta e mais alunos e a experiência de ter pertencido ao júri que vigiava exames no Estabelecimento Prisional de Alcoentre.

Em Janeiro de 1995, tomou posse como Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha. Com os seus conhecimentos, dinamismo e experiência nas áreas de gestão e economia, conseguiu modernizar e ampliar o antigo Hospital num acolhedor Lar para a Terceira Idade, inaugurado em 2001 pelo então Primeiro-ministro Eng.º António Guterres.

Também deu um grande apoio ao Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha.

São catorze anos de profícuo trabalho, estimulando e criando um espírito de equipa, sempre com trabalho, disciplina e humanidade.

Mentalizou todos os trabalhadores e trabalhadoras (neste momento são cinquenta e duas) para realizar uma acção diária em benefício dos idosos, a razão principal da sua existência. Não foi só um Provedor de ligações, mas acima de tudo um HOMEM voluntário de relações, e sempre presente com uma palavra amiga e bem-disposta.

Entregou-se com alma e coração a esta missão e hoje, já despido do cargo que ocupou, ainda o encontramos lá, visitando os seus “ cristos idosos, doridos, queixosos e, por vezes, crucificados à cama”.

A Câmara Municipal do Fundão entendeu há anos atribuir-lhe uma condecoração municipal, em jeito de homenagem por todos os trabalhos realizados, principalmente na Santa Casa da Misericórdia de Alpedrinha. Fizeram justiça a um HOMEM digno, que tem lutado pela dignidade dos mais desprotegidos.

Uma tarde, numa tertúlia entre amigos, comentou que na gestão de qualquer instituição “não é difícil gerir o muito dinheiro, o complicado é saber gerir o ZERO”.

O Dr. Braz Ribeiro ainda gosta de escrever versos. Em diversos poemas, exprime com verdade os seus sentimentos mais profundos. É pena não manifestar desejo de publicar um livro, a sua veia poética faria inveja a muitos poetas de encomenda. É um poeta de corpo inteiro sem um livro publicado.

Falei-vos de um Ribeiro com um caudal visível de humanidade, solidariedade, poesia e “gestão do zero”. A dedicada esposa Pilar apoia-o a todas as horas do dia.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Setembro/2013