Escutismo: Ecos da publicação de dois livros
Esta semana as mãos amigas de um familiar escuteiro fazem-me chegar, em boa hora, dois livros abrangentes de temática escutista.
O primeiro, numa apresentável brochura de quase setecentas páginas sob o título “ O SONHO COMANDA A VIDA – HISTÓRIA DO ESCUTISMO NA REGIÃO DE LISBOA “, é da autoria de João Vasco Reis, Licenciado em História e Investigador, com diversos livros publicados, e atualmente Chefe do Agrupamento 1331 de S. Vicente (Escuteiros Marítimos do Carvoeiro no Algarve).
Este Livro é um projeto que nasceu na Junta Regional de Lisboa, constitui uma obra valiosa muito bem ilustrada e esclarecida. Trata-se de uma peça imprescindível de consulta, para quem quiser defender uma tese sobre o Escutismo na Região de Lisboa e no País. Ali estão descritos todos os assuntos inerentes ao nascimento do movimento, crescimento, suas dificuldades, repercussões religiosas, sociais, políticas ao longo dos anos.
O segundo livro da autoria do Chefe António Duarte de Almeida, com o título “IMPORTANTES… SÃO OS JOVENS”, é uma Edição do Corpo Nacional de Escutas, publicado no âmbito das comemorações do 90º Aniversário do CNE.
Na nota prévia é-nos esclarecido que se trata de um testemunho revelador de uma vida inteira de dedicação e entrega ao ideal escutista.
O autor, com mais de sessenta anos de serviço voluntário dedicado à causa do Escutismo, desempenhou inúmeros cargos: Chefe e Fundador de Agrupamentos, Redator da “Flor de Liz”, Presidente da Comissão Eleitoral, Chefe do Departamento Nacional da Contabilidade, Diretor e Formador do Curso de Dirigentes, entre outras funções. Possui diversas condecorações, e em 1992 foi-lhe atribuída a máxima condecoração do CNE, o Colar Nuno Álvares.
Em pouco mais de cem páginas, num livro manobrável, a leitura é bastante atraente, logo que começamos a ler não paramos até chegar ao final, parando aqui e ali para saborear apontamentos de vivências e caminhos para lidar com a juventude.
Na nota de abertura, “ O Gato Selvagem “ autor da obra escreve: “nós, os mais velhos, temos uma vantagem porque já fizemos muitas asneiras, e é nosso dever dizermos aos mais novos “não façam isso, eu já fiz, e deu asneira.” Mais à frente, lembra B.P. em que o adulto deve ser um simples “ gestor, fornecedor de ideias e homem experiente no meio dos jovens”.
É interessante a metáfora que escolhe para se referir a um Agrupamento de Escuteiros. É um jardim onde os jovens são flores que crescem por si. Aos dirigentes cabe-lhes a missão de jardineiros: regar, adubar, podar, mondar para se desenvolvam também em sabedoria e graça.
No prefácio, o ex-Chefe Nacional Victor Faria esclarece-nos que “este Livro é um Fogo de Conselho, em que o autor faz formação e conta histórias e muitas são reais”.
No capítulo “Histórias com Jovens Dentro”, lemos muitas facetas veriditas, que acontecem em muitos agrupamentos, cometendo-se muitos erros, prepotências e injustiças, porque não se fazem análises concretas, não se investiga, não se ouvem os intervenientes. Deve fazer-se um acompanhamento de proximidade, não no ar condicionado ou nos gabinetes, mas sim no terreno. Nunca se devem fazer julgamentos levianos e tomar decisões precipitadas. B.P. alerta-nos que “existem duas espécies de disciplina: uma é expressão de lealdade através da ação, a outra submissão às ordens por medo de ser castigado. A liberdade acompanhada pelo amor opera maravilhas. O receio do pai (eu digo chefe), não implica necessariamente respeito por ele, e é a vara, que muitas vezes faz o cobarde e o mentiroso.” Num Agrupamento de Escuteiros, a disciplina é indispensável, mas tem de ser inteligente. Segundo Gaston Courtois, na “Arte de Ser Chefe”, “as faltas com as quais o chefe mais se indigna são aquelas em que ele próprio tem a maior parte da responsabilidade, ou porque se explicou mal ou porque não soube seguir de perto a execução. Quando se repreende, é preciso ter sempre em mente o fim que se pretende atingir, isto é, a educação, a formação.”
Não se pode esquecer que o trabalho de um chefe no escutismo é um ato de AMOR. Neste livro lá temos um capítulo sobre as considerações aos chefes e aos assistentes, onde o autor lembra a estes que não devem ser apenas assistentes, mas assumir a missão de dirigentes, falando aos jovens com pistas concretas…Só um educador de excelência pode formar bons escuteiros.
Sabemos que o Escutismo é um jogo que nos prepara para a vida. Como todos os jogos, tem intervenientes e regras. Se há uma jogada mais violenta, menos certa, o chefe não deve ter medo de intervir e usar com saber, inteligência e pedagogia a sua autoridade e disciplina.
“IMPORTANTES…SÃO OS JOVENS!”, Livro de leitura obrigatória para todos, pais, escuteiros, assistentes e dirigentes. Para os dirigentes e assistentes é uma obra pedagogia e de prática escutista que merece uma leitura de análise e reflexão.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Outubro/2013