Natal – nasceu Jesus e renasce a esperança
Voltamos a viver o Natal em situação de crise, portanto com sofrimento acrescido para muitas pessoas e famílias. Diminuem os ordenados, cresce o número dos que perdem emprego, aumentam os impostos e taxas para níveis muito desconfortáveis, pondo em causa a próprio sustentabilidade económica da sociedade; o poder de compra desce todos os dias, ainda que, em geral, de forma silenciosa. As pessoas sofrem e aumentam os casos de pobreza, sendo, com frequência pobreza envergonhada.
Por outro lado, sabemos que, apesar de a população mundial ter ultrapassado, há poucas semanas, o limite dos 7 mil milhões, há recursos materiais suficientes para todos. Não chegam é para manter hábitos de consumo material desajustados à realidade quer das necessidades verdadeiras das pessoas quer da disponibilidade dos bens criados. Por isso são já muitos os profetas da actualidade que pedem uma mudança de paradigma nos hábitos e nas práticas das pessoas e da sociedade. São poucos, porém, os que arriscam definir os caminhos desse novo paradigma.
Do Presépio de Belém vêm-no indicações para definirmos bem o modelo de vida em sociedade que as novas circunstâncias exigem. Assim, o Menino de Belém, sendo Senhor do mundo, contentou-se com as palhinhas de uma manjedoira e a companhia de alguns animais para berço do Seu nascimento, sob o olhar atento do Pai e da Mãe. Recomenda-nos sobriedade.
Também, desejando prestar um serviço ao mundo e a cada pessoa em concreto, sendo Deus e Senhor, assumiu a condição humana até às últimas consequências, sem qualquer reserva. Aceitou passar pelo sofrimento e pela rejeição social, desde o primeiro momento da sua entrada na história, porque não houve para ele lugar nas casas nem nas hospedarias, partilhando, assim, a sorte dos excluídos.
Recomenda-nos a solidariedade.
Nasceu no seio de uma família, onde reinava o amor incondicional e sem reservas entre marido e esposa; o amor total para aquele Filho; a procura de soluções e partilha de sofrimento nas horas difíceis – não foi fácil aceitar que o nascimento fosse numa gruta de animais, como não foi fácil a fuga para o Egipto ou a perda do Menino em Jerusalém nos tempos da sua adolescência.
Esta é uma lição de família.
Hoje continuamos a precisar de famílias assim, assentes no amor e na fidelidade sem condições entre os esposos; famílias onde os filhos se sentem sempre bem acolhidos, amados e valorizados; famílias onde os idosos se sentem em casa e nunca abandonados; famílias que sejam verdadeiramente escolas de valores humanos e cristãos essenciais para a cidadania.
O Natal, festa comemorativa do Nascimento de Jesus, é também festa da Família. Por isso pede novas atitudes da sociedade e das leis que a regulam para com a instituição familiar. De facto, assistimos a hábitos instalados de desprezo pela realidade da família, que só podem gerar sofrimento das pessoas e cada vez mais exclusão social.
Que este Natal seja, de verdade, nascimento de Jesus no coração e na vida das pessoas e instituições, incluindo a organização social que temos, para que a valorização das famílias, a sobriedade no consumo, a solidariedade dirigida à situação de cada um, na proximidade e atenção diárias sejam parte essencial da mudança de paradigma da nossa vida em sociedade tão apregoada nos actuais tempos de crise.
Guarda e Paço Episcopal, 8 de Dezembro de 2011
+ Manuel R. Felício, Bispo da Guarda